Os pecuaristas
Odair e Milton Geller, irmãos do ministro da Agricultura, Neri Geller, presos
durante a Operação Terra Prometida, negaram em depoimento à Polícia Federal
qualquer envolvimento com um esquema de fraudes em lotes da União destinados à
reforma agrária. Eles tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça e
passaram a noite de quinta-feira na cadeia. Nesta sexta, eles prestaram
depoimento ao delegado Hércules Ferreira Sodré, responsável pelas
investigações, no Centro de Custódia de Cuiabá, onde estão presos.
De acordo com o
delegado, os irmãos Geller alegaram que não são proprietários dos 15 lotes de
um assentamento no município de Itanhangá, a 447 km da capital, conforme
denúncia do Ministério Público Federal (MPF). As terras seriam exploradas para
monoculturas, como de soja e de milho. Durante a operação, deflagrada nesta quinta,
policiais federais foram até as casas deles, em Nova Mutum e Lucas do Rio
Verde, a 269 e 360 km da capital, porém, os pecuaristas não estavam. Na casa de
Odair Geller, em Lucas do Rio Verde, foram apreendidos documentos.
Em depoimento,
os irmãos também negaram o suposto envolvimento do Ministro da Agricultura,
Neri Geller, na apropriação de lotes da União. O nome do ministro foi citado
durante a investigação, conforme o Ministério Público Federal, por testemunhas
que disseram que ele seria proprietário de lotes no assentamento. Dessa forma,
o processo foi desmembrado e remetido para o Supremo Tribunal Federal (STF).
O Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou, por meio de nota, que o
ministro Neri Geller não foi arrolado na “Operação Terra Prometida”. Ainda de
acordo com o órgão, Geller lamentou a presença de familiares entre os
investigados e disse não acreditar na participação dos mesmos em qualquer
irregularidade. Afirmou também que não tem associação jurídica ou outro tipo de
sociedade com os envolvidos no processo.
O delegado
federal informou que Odair e Milton Geller foram indiciados pelos crimes de
invasão de terras, estelionato majorado, formação de quadrilha e crimes
ambientais. O advogado Murilo Freire, que atua na defesa dos irmãos Geller,
disse que seus clientes estão convictos de que a acusação é injusta e que nunca
exploraram terras da União.
A operação
Terra Prometida combate crimes de corrupção, fraudes, invasão de terras
públicas e crimes ambientais. Ao todo, a Justiça Federal expediu 52 mandados
judiciais de prisão, 146 mandados de busca e apreensão e 29 de medidas
proibitivas. Além de Cuiabá e outras nove cidades de Mato Grosso, os mandados
foram expedidos para cumprimento em cidades nos estados de Santa Catarina,
Paraná e Rio Grande do Sul.
Grupos
Conforme a denúncia apresentada pelo MPF à Justiça Federal, a quadrilha se
divide em pelo menos quatro núcleos. O primeiro seria formado por fazendeiros e
empresários que, por sua vez, estariam subdivididos entre “liderança” (com 14
pessoas) e “segundo escalão” (com 62 pessoas). O segundo núcleo seria formado
por quatro sindicalistas (um deles também atuaria como integrante do primeiro
núcleo). O terceiro núcleo seria de quatro servidores públicos. Já o quarto
núcleo da organização criminosa consistiria em apenas uma pessoa, considerada
“colaboradora”.
Odair e Milton
Geller fariam parte do grupo do primeiro núcleo da quadrilha, composto por
empresários e fazendeiros. Porém, no 'segundo escalão'. Não estão entre os
líderes da organização. Confome a PF, o esquema era operado, basicamente, por
pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá e ao serviço
social da prefeitura municipal daquele município, que elaboravam listas com
nomes de 'laranjas' que, em nome de fazendeiros, falsificavam 'cartas de
desistência' e declaração de aptidão ao Incra.
Depois disso,
servidores do Incra faziam uma vistoria fictícia para comprovar a posse dos
'laranjas', que após cadastrados no sistema do órgão, eram homologados e
emitidos na posse. Entretanto, quando o documento do Incra era emitido, o
fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas reconcentradas. A
estimativa da PF é de que 80 fazendeiros tenham ocupado cerca de mil lotes da
União. Um deles teria obtido 55 lotes e regularizado essas áreas com o apoio de
servidores. O grupo de latifundiários teria usado da influência e poder
econômico para aliciar, coagir e ameaçar outros pessoas para obter lotes.
Kelly MartinsDo G1 MT
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