Mato Grosso é o segundo estado brasileiro que mais contribuiu para o
aumento do efeito estufa durante o ano de 2013. Conforme levantamento realizado
pelo segundo ano consecutivo pelo Observatório do Clima, por meio do Sistema de
Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estuda (SEEG 2.0) - Edição 2014,
divulgado na última semana, o Estado foi responsável pela emissão de 147,7 mil
toneladas de dióxido de carbono (CO2), ficando atrás apenas do Pará, que emitiu
175,8 mil toneladas do mesmo gás.
São Paulo (133,7 mil), Minas Gerais (117,1 mil) e Rio Grande do Sul
(92,8 mil) também fazem parte do topo da lista. As emissões brasileiras
atingiram 1,57 bilhão de toneladas de CO2 em 2013, o que representa um aumento
de 7,8% em relação ao ano de 2012, e o maior valor desde 2008.
Em comparação ao ano anterior, Mato Grosso apresentou um aumento de
18,8% na liberação do gás tóxico. Dentre os setores que mais contribuíram para
a elevação do efeito estufa no Estado estão as mudanças de uso da terra e a
agropecuária. Juntos, os setores somam 92,4% do total de CO2 emitido durante
todo o ano passado.
Professor de pós-graduação nas Universidades Federal de Mato Grosso
(UFMT) e de Cuiabá (Unic), Osvaldo Borges Pinto Junior explica que as mudanças
de uso da terra podem ser consideradas todas e quaisquer mudanças realizadas
pelo homem junto às paisagens. Exemplo disso é a devastação de uma parte da
Floresta Amazônica para que a mesma seja transformada em pastagem ou área para
plantação. Outras interferências, que também estão presentes no setor, são as
queimadas e desmatamento. “Em Mato Grosso, na maioria dos casos de mudança de
uso da terra há a presença do fogo. Isso contribuiu ainda mais para a
concentração de CO2 na terra, o que, consequentemente, aumenta o efeito
estufa”, explicou.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostram que em 2013
Mato Grosso registrou 101,4 mil focos de calor, sendo considerado o estado
brasileiro com o maior número de ocorrências. No país, entre 1º de janeiro a 31
de dezembro do ano passado foram contabilizados 513,9 mil focos, o que revela
que o Estado foi o responsável por 20% dos casos ocorridos no país. Também
somaram focos de calor os estados do Maranhão, Pará, Tocantins, Bahia e Piauí.
Conforme relatório do Observatório do Clima, as mudanças de uso da terra
em Mato Grosso resultaram na eliminação de 87,7 mil toneladas de CO2 durante o
ano de 2013. Mesmo sendo o fogo um dos principais vilões, Osvaldo Borges afirma
que há ainda outras ações que também interferem no aumento do efeito estufa,
como é o caso do tratamento dado à terra e ainda a quantidade de solos alagados
no mundo. “São fatores que também contribuem para a concentração do dióxido de
carbono”.
Conceito - Considerado um evento natural, o efeito estufa não pode ser
apenas classificado como um fator ruim para o meio ambiente e demais seres. De
acordo com Osvaldo Borges, o mesmo pode ser comparado a um “cobertor” que
protege a atmosfera. Ele informa que é necessário que exista esta “capa
protetora” para que a temperatura fique equilibrada. “O fato é que quanto mais
se aumenta este ‘cobertor’, a temperatura acaba ficando ainda maior. Tal
situação reflete em malefícios para a fauna, flora e seres humanos”.
Dentre os pontos negativos do aumento do efeito estufa está a elevação
da temperatura. Segundo Borges, este fator contribuiu para a ameaças de
espécies animais e inclusive extinção das mesmas. O estudioso ainda destaca que
a elevação da temperatura também reflete na falta de água em determinados
locais. “Com a temperatura alta, a tendência é que a evaporação da água seja
maior. Isso reflete no aumento de chuvas em determinadas regiões e escassez de
água em outras localidades, o que prova mais uma vez um desequilíbrio”.
Sobre a vegetação presente em Mato Grosso, o professor destaca que há
estudos que revelam que determinadas áreas da Floresta Amazônica estão passando
por processos de “savanização”, ou seja, perdendo as características de
florestas e apresentando aspectos do bioma Cerrado.
Redução - Segundo o professor Osvaldo Borges, para que Mato Grosso
consiga reduzir a quantidade de CO2 emitida é necessário diminuir,
principalmente, as queimadas e desmatamentos. Ele reforça que ambas as
ocorrências estão ligadas diretamente às mudanças de uso da terra e ao setor da
pecuária e agricultura. “Para que essa redução seja realmente visível, é
necessário investimento em ações a médio prazo”, comentou o estudioso.
Coordenador geral do Observatório do Clima, André Ferretti afirma que os
dados do SEEG contribuem para o estabelecimento de um debate qualificado sobre
políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas no Brasil. “Esse sistema
de monitoramento anual é o primeiro passo para avaliarmos o status das emissões
de gases do efeito estufa (GEEs) no Brasil. Após conhecer em quais setores ou
regiões avançamos e em quais precisamos de ações mais urgentes, temos os
subsídios adequados para ajudar a definir melhor as políticas públicas
nacionais de adaptação ou mitigação às mudanças climáticas”, explica.
Outro lado - A Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso
(Sema/MT) foi procurada para comentar sobre as medidas adotadas para evitar os
prejuízos ambientais, mas a assessoria de comunicação não atendeu as ligações.
Por: Gazeta Digital
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