Sete mil
pessoas não têm para onde ir quando forem retiradas das terras indígenas de
Maraiwãtsédé, remanescente da gleba Suiá Missú, cujo prazo para saída é de 9 de
dezembro, de acordo com notificação judicial feita à comunidade local na
sexta-feira passada. Prefeitos dos dois municípios onde estão a gleba não sabem
o que fazer com 550 alunos de duas escolas e a população que precisa ser
retirada da área, cuja posse é disputada há três décadas por índios e não
índios.
A área em
litígio entre produtores rurais e indígenas fica entre os municípios de São
Félix do Araguaia e Alto Boa Vista, na região do Araguaia, no nordeste de Mato
Grosso. O alerta é do prefeito de São Félix do Araguaia, Filemon Limoeiro, em
entrevista coletiva nesta terça-feira. Os índios beneficiados pela área são
cerca de 150.
Ele
sugere, como ironia, que o juiz federal Julier Sebastião da Silva, determine a
prisão das 7 mil pessoas, pois lá elas teriam mais condição de viver. “O juiz
Julier era melhor decretar prisão das 7 mil pessoas, porque lá na prisão elas
têm comida, tem onde dormir, tem café”.
“Juridicamente
não tem nenhuma medida possível, não tem. As famílias dependem agora de acerto
político”, preocupa-se com a experiência de quem mora no local há 48 anos. “O
que acontece em Mato Grosso é uma aberração, e eu não estou vendo nenhum
político fazendo mobilização”, cobra.
“Temos
indústria de arroz que manda produto para o Nordeste, fábrica de ração, dois
postos de gasolina, cidade, igrejas. Como desmanchar isso em 30 dias?”,
questiona.
O
governador Silval Barbosa tem reunião hoje em Brasília para buscar solução para
o caso. O governo havia apresentado uma área de 215 mil hectares como opção
para a permuta de área aos indígenas da etnia Xavante. Limoeiro afirma que a
maioria dos índios concordam em permutar uma área proposta. “A área proposta
pelo governador de 215 mil hectares é maior do que a gleba”, conta.
O
prefeito de São Félix conta que os soldados do Exército e Força Nacional de
Segurança fazem pressão psicológica aos moradores. “Eles pegam carros, dão a
volta em todas as rua, com, três a quatro carros. Param no posto da polícia
armados, andam com metralhadora, fuzil. É um aparato de guerra. A gente
assusta”.
Reunião
política
Uma
alternativa para a desocupação de 7 mil pessoas da área depende de uma saída
política a ser encaminhada em reunião de três níveis de governos e
parlamentares no dia 22 deste mês no local. Caso contrário, as pessoas não
terão para onde ir e haverá problemas sociais, adianta o prefeito. Da reunião
devem participar os prefeitos de São Félix, Alto Boa Vista, Luciara, Serra Nova
Dourada e Bom Jesus do Araguaia.
Cerca de
250 soldados do Exército e Força Nacional de Segurança estão no município de
Alto Boa Vista para cumprir decisão judicial pela desocupação. Filemon
classifica a operação como “ação de guerra, com caminhões tanques,
helicóptero”.
A decisão
para desocupar a área foi feita pela Justiça Federal e ratificada em outubro
pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Ayres
Britto. A base para retirada de famílias da área foi uma portaria do Ministério
da Justiça, que determinou a demarcação da área a favor da Funai para criar uma
reserva indígena Xavante.
Histórico
Em 1998,
o então ministro da Justiça Maurício Corrêa, na gestão do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso criou por decreto a área como indígena. A gleba
originalmente tinha 680 mil hectares e foi vendida pelo desbravador da região,
Ariosto da Riva, a fazendeiros em leilão. Posteriormente, a área em disputa
ficou com cerca de 168 mil hectares.
Durante a
Eco 92 (Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento) foi
discutido que uma das proprietárias de parte das terras à época, a empresa
italiana Agip, controlada pelo Vaticano, doasse aos índios. O que não foi
feito. Desde então, o conflito entre índios e não índios se acirraram.
De Cuiaba
- Jonas da Silva
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