Exames
laboratoriais realizados em amostras colhidas nas lavouras localizadas dentro
da terra indígena de Marãiwatsédé, região nordeste de Mato Grosso,
identificaram a presença de ferrugem asiática, doença que ataca
plantações de soja. A informação é do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), que entregou laudo técnico à Fundação Nacional do Índio
(Funai) alertando sobre o risco sanitário representado pelo desenvolvimento da
doença e propagação para além do Estado, podendo até atingir áreas próximas de
Goiás e Tocantins.
Desde
1992, os mais de 165 mil hectares da então gleba Suía Missú, perto do município
de Alto Boa Vista, a 1.064 km de Cuiabá, foram ocupados em grande parte por
produtores rurais (a maioria pecuaristas) e famílias que se mudaram para o
vilarejo que se formou, denominado Estrela do Araguaia (Posto da Mata), a
despeito da decisão do governo federal de demarcar a terra como reserva xavante
Marãiwatsédé.
Após
longo processo judicial no qual os ocupantes não-índios perderam o direito
sobre as terras, força-tarefa conjunta coordenada por oficiais de Justiça e
forças policiais cumpriram em dezembro do ano passado decisão de “desintrusão”,
operação que resultou no abandono forçado de duas áreas de lavoura de
soja.
A região
Nordeste de Mato Grosso, onde situa-se a terra indígena, detém 15,3%
da área agricultável com soja no estado, além de outros 15% de produção.
Devido ao
risco de mais prejuízos e também de propagação de pragas e doenças como a
ferrugem para além das divisas do Estado (a reserva fica próxima aos estados de
Goiás e Tocantins), um dos produtores tentou, mas sem sucesso, obter na Justiça
autorização para permanecer nas terras apenas para promover o devido controle
sanitário e realizar a última colheita. A Funai chegou conceder-lhe quatro dias
para o trabalho, mas o prazo necessário para colher em todos os mais de 450
hectares desta propriedade em particular teria de se estender até meados de
março.
Diante da
situação e da alegada inflexibilidade da Funai, a Aprosoja solicitou ao Mapa
que realizasse vistoria na área para convencer o governo federal a tomar
providências preventivas. Coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal
do Mapa, Wanderlei Dias Guerra percorreu e sobrevoou as fazendas e detectou
duas lavouras de soja de área total de aproximadamente mil hectares que tiveram
de ser deixadas por seus produtores dentro da reserva xavante, sendo uma já em
condições de colheita.
Risco
sanitário
À Funai,
o Mapa entregou de imediato, há uma semana, um laudo informando da necessidade
de controle sanitário preventivo nas plantações para que eventual praga ou
doença desenvolvida não se espalhasse para os cerca de 100 mil hectares de
lavouras no entorno. Paralelamente, amostras das plantações foram enviadas para
análise laboratorial, cujo resultado foi divulgado pelo próprio coordenador
nesta sexta-feira (8) após o devido período de incubação.
“O que
pode acontecer? Se houver condição de clima adequado, nublado e com chuva como
está agora, a ferrugem pode se disseminar por toda a região. A experiência que
temos com a ferrugem é de que em pouco tempo, de cinco a dez dias, ela
multiplica seu potencial por cem”, alerta o coordenador.
Gerente
técnico e institucional da Aprosoja, Nery Ribas defende que, se faltava alguma
evidência para a Funai tomar providências imediatas em relação às lavouras da
reserva, o resultado do exame laboratorial é o argumento incontestável. “Se a
Funai não tomar providência urgente, o comprometimento da soja de toda a região
é muito sério. Nós conhecemos a velocidade com que a ferrugem se alastra. É um
assunto de segurança sanitária”, sentencia.
G1 MT

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