Quarenta e cinco
policiais militares mato-grossenses abandonaram a carreira pedindo baixa em
caráter irrevogável em 2013, uma média de 3,7 ao mês. Esse índice representa um
aumento de 40,6% em relação às demissões protolocadas em 2012, ano em que 32
policiais deixaram a PM espontaneamente.
Apesar de não
haver detalhamento oficial, sabe-se que a maioria era soldado com menos de
cinco anos na atividade militar. Na primeira quinzena de 2014, dois soldados já
abandonaram a farda.
Renan Gonçalves
de Oliveira, 29, que ingressou na Polícia Militar há pouco mais de três anos,
acaba de abandonar a profissão. Esta semana, o ex-soldado Gonçalves, como era
denominado, esteve no Comando Geral, em Cuiabá, para entregar a farda e assinar
seu desligamento da corporação.
Lotado
inicialmente em Alta Floresta (780 km de Cuiabá), onde mora e serviu por dois
anos, Gonçalves foi transferido para Paranaíta, a uma distância de 62
quilômetros.
A transferência,
mesmo imposta, não seria a principal causa da demissão. O baixo salário e a
sobrecarga de trabalho, diz, foram os itens que mais pesaram. Com um salário
bruto de R$ 2.366, Gonçalves observa que recebia líquido cerca de R$ 1.900 para
trabalhar em regime de 24 horas de trabalho por 24hs de descanso.
Casado e com um
filho de dois anos, o ex-soldado percebeu, segundo ele, que com o salário de
policial não teria como manter duas casas, da família em Alta Floresta, e a
dele, em Paranaíta.
Quando ingressou
na carreira, Renan Gonçalves, que antes era jogador de futebol, acreditava que
poderia ascender na carreira.
“Vi que
praticamente não existem chances, que são necessários, no mínimo, 12 anos para
sair de soldado para cabo”, observou. Convidado pelo irmão, Gonçalves escolheu
atuar em uma escolinha de futebol que está sendo criada em Alta Floresta.
De acordo com o
vice-presidente da Associação de Cabos e Soldados, Joelson Fernandes do Amaral,
os baixos salários estão fazendo a PM perder policiais. Além das demissões
espontâneas, há aposentadorias e exonerações disciplinares, somando uma média
de 250 desligamentos ao ano. Os concursos públicos, pondera, não conseguem
repor o efetivo.
Joelson reconhece
o clima de insatisfação vivido pelos PMs, mas explica que está sendo elaborado
o plano de cargos e carreira que deve ser apresentado ao governo até o dia 10
de fevereiro.
Há alguns meses,
os próprios policiais lançaram campanhas de mobilização por melhores salários,
espalhando outdoor e mensagens nas redes sociais. “Não queremos continuar com o
quarto pior salários do país”, completa o cabo Elizeu Nascimento, um dos
líderes da campanha.
Escrito por Alecy Alves