Pouco
mais de dois meses após concluir a desocupação da terra indígena
xavante Marãiwatsédé, no norte de Mato Grosso, o governo federal promove nesta
sexta-feira (5) um ato para oficializar a concessão de uso de 165 mil hectares
aos 1,8 mil índios que já viviam no local, segundo o Censo 2010. Um hectare
corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol
oficial. A área total compreende parte dos territórios das cidades de Alto
Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia.
Estão
previstas as presenças do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da
República, Gilberto Carvalho; do secretário nacional de Articulação Social,
Paulo Maldos, e do secretário nacional de Saúde Indígena, Antonio Alves, além
de representantes do Ministério da Justiça e da Fundação Nacional do Índio
(Funai). O grupo deve partir de Brasília por volta das 8h, a bordo de avião da
Força Aérea Brasileira (FAB).
Segundo
Maldos, o ato servirá para marcar o fim do processo de retirada dos não índios
da área, que, salvo episódios isolados, ocorreu sem o registro de confrontos de
grandes proporções. Antes do início da operação, alguns produtores e líderes
políticos chegaram a anunciar que as pessoas não deixariam a área
pacificamente.
“Não se
trata de uma devolução qualquer. Esse foi um processo histórico”, explicou o
secretário à Agência Brasil. “A meu ver, essa questão de fazer justiça aos
direitos indígenas reconhecidos pela Constituição Federal é, mal comparando,
como o reconhecimento a um pedido de anistia, quando o Estado reconhece que uma
pessoa foi agredida em seus direitos e merece um marco [ato] formal”.
Para
Maldos, o reconhecimento por parte do Estado ao direito dos índios xavantes à
área é irrevogável e os recursos à Justiça que restavam ser julgados diziam
respeito a uma questão sanitária, já que alguns produtores que ocupavam a área
ainda reivindicam o direito a voltarem para colher a safra que havia sido
plantada.
Para o
Conselho Indigenista Missionário (Cimi), concluída a retirada dos não índios,
cabe aos governos federal e estadual garantir os demais direitos sociais da
comunidade xavante. Em nota, a organização ligada à Igreja Católica afirma que
as condições sanitárias no Polo Base de Saúde são péssimas, tanto que,
recentemente, ao menos quatro crianças morreram com um quadro de desidratação
generalizada.
Ainda de
acordo com o Cimi, faltam medicamentos no posto de saúde e que nem mesmo o lixo
hospitalar é descartado adequadamente, sendo incinerado junto com o lixo
doméstico em um buraco cavado atrás do posto de saúde. Além disso, segundo
ainda o Cimi, o cacique de uma das aldeias, Damião Paridzané, teria recebido
uma ameaça de morte de um ex-morador há cerca de um mês, após a retirada dos
não índios ter sido concluída.
Por: Alex
Rodrigues

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