Alto
Boa Vista, MT – A OPAN realizou a primeira oficina
de etnomapeamento na Terra Indígena Marãiwatsédé com apoio do Fundo Brasileiro
para Biodiversidade (Funbio) em parceria com a FUNAI, entre os dias 13 a 18 de
maio de 2013. A oficina contou com a participação de 40 indígenas, com destaque
para o grande número de mulheres coletoras de sementes do grupo Piõ Rómnha
Ma´ubumrõi´wa. A presença de anciãos teve fundamental importância para a
reflexão sobre o território Marãiwatsédé, de onde os indígenas foram expulsos
em 1966.
Durante a atividade, os Xavante
identificaram locais de caça, pesca, coleta e roças por meio de diálogo
participativo promovido pela equipe indigenista da OPAN com apoio da FUNAI. Os
Xavante foram convidados a relembrar sobre o que havia em Marãiwatsédé antes da
invasão de posseiros e latifundiários, levando em conta a temporalidade
(passado, presente e futuro). “A área sofreu mudanças drásticas durante esses
mais de 40 anos em que os Xavante estiveram fora, de forma que muitos dos
locais relevantes (de caça, matas, de rituais) encontram-se atualmente num
estado bastante distinto daquele que está na lembrança dos mais velhos”,
explica o consultor Marcelino Soyinka, que conduziu a atividade na aldeia. “
Por outro lado, os mais jovens conhecem tais locais apenas por histórias dos
anciãos, mas ainda não tiveram oportunidade de realizar este retorno a todas as
áreas. Agora, essa expectativa de reocupação e reconhecimento é um desejo bem
forte entre os Xavante”, completa.
O levantamento preliminar feito pelos
indígenas baseou-se no domínio do simbólico e do físico. A geografia do
território do povo Xavante também foi discutida, com a identificação de áreas
de uso nos Ti Aipôdo (mapas), elaboração de mapas mentais com aldeias antigas,
regiões de caça/coleta/pesca/roça, locais sagrados e áreas de expedições
territoriais.
Após sofrerem o processo de
desterritorialização compulsória em 1966, os Xavante de Marãiwatsédé passam por
uma reterritorialização, entendida como movimento de (re) construção do
território. O processo de desintrusão dos ocupantes não indígenas foi iniciado
em novembro de 2012, após sucessivas decisões judiciais, e oficialmente
finalizado em janeiro de 2013. Por isso, é de suma importância a reflexão sobre
o uso, manejo e desenvolvimento sustentável do território pela comunidade.
Contexto
A TI Marãiwatsédé tem hoje 104 mil
hectares devastados, transformados em pastagens e monoculturas, o que demanda
ações de recuperação ambiental de médio e longo prazos, apoio à comunidade em
alternativas sustentáveis e rentáveis relacionadas à suas próprias atividades.
Os mapas e diálogos relacionados possibilitam uma reflexão e discussão sobre o
gerenciamento e uso do território constituindo uma ferramenta de gestão
ambiental e territorial desta TI. Nesses diálogos, novos pleitos foram
levantados, como o reflorestamento em áreas de pasto e abertura de novas roças
de toco e mecanizada.
Os Xavante de Marãiwatsédé tiveram
cerca de 165 mil hectares homologados em 1998 pela Presidência da República,
mas só conseguiram retornar da diáspora sofrida desde a ditadura militar em
2004, após padecerem às margens da BR-158 por 10 meses. Mesmo dominado por
latifundiários, até 1992, o território indígena ainda não tinha sofrido grandes
intervenções e desmatamentos, mas de 20 anos para cá as águas foram
contaminadas, a floresta foi devastada e Marãiwatsédé foi considerada a terra
indígena mais desmatada da Amazônia brasileira. Hoje, em Marãiwatsédé há apenas
uma aldeia onde vivem cerca de 980 pessoas, das quais cerca de 300 são
crianças.
“A luta Xavante pelo território não
se esgotou com a desintrusão. Assim, após esta grande vitória dos indígenas, o
desafio é pensar o que fazer com o território, como viver, como cuidar, gerir.
Neste sentido, o etnomapeamento surge como uma ferramenta importante para
auxiliar no compartilhamento das informações sobre a área a partir da ótica dos
A’uwe e, ao disponibilizá-las nesta linguagem visual (etnomapas), que é simples
e acessível a todos os A‘uwe, também atua como importante apoio no planejamento
das ações de gestão de seu território”, diz Soyinka. A oficina de
etonomapeamento junto ao povo Xavante terá continuidade e vai subsidiar a
elaboração do Plano de Gestão Ambiental e Territorial de Marãiwatsédé.
Por:
Comunicação OPAN
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