Depois
das manifestações, bloqueios de rodovias e até confronto com a Força Nacional
de Segurança, os posseiros da Terra Indígena Marãiwatsédé optaram pela
desocupação voluntária dos imóveis. A Fundação Nacional do Índio (Funai)
informa poucos focos de resistência, fato confirmado pela população local.
Os
principais destinos são Confresa e Alto Boa Vista, onde os alugueis já começam
a subir graças à maior procura. Com relação aos animais e demais benfeitorias
realizadas nas chácaras e fazendas, muitos ainda não sabem o que fazer. Eles
não conseguiram desmontar secadores de arroz, galpões e pensam em pedir mais
prazo à Justiça. Já o gado, corre o risco de ser confiscado, tendo em vista que
não há condições de se realizar o transporte e nem pasto para abrigá-los fora
da reserva.
As áreas
de pastos fora dos limites da reserva sofrem com a “superlotação”. Quem tem
espaço para 100 cabeças abriga 400. Solidariedade com os vizinhos despejados,
que não têm para onde levar seus animais, ou investimento incentivado pela
baixa do preço. A defasagem na região é de pelo menos 40%, conforme
pecuaristas.
Primeiro
a receber a ordem de despejo, o fazendeiro Antônio Manede Jordão, conhecido
como “Alemão”, tem até o dia de Natal para abandonar quase mil hectares de
terras.
Há 14
anos dentro da gleba Suiá Missú, ele afirma que não vai mais investir na
atividade agropecuária. “Vou viver viajando por aí. Quem sabe, um dia, nos
encontramos e você vai dizer: ‘o senhor cumpriu a promessa’”, disse à
reportagem do Diário.
Sua
propriedade foi alvo do pior conflito da desintrusão. Pelo menos 10 pessoas
ficaram feridas quando os moradores resolveram enfrentar a Força Nacional de
Segurança. Armados com paus e pedras, eles foram recebidos com tiros de bala de
borracha e bombas de efeitos moral.
O
confronto, segundo Alemão, teve início porque as equipes da força-tarefa
planejavam montar um “quartel general” dentro da fazenda, ideia que acabou
abortada.
Diante da
ameaça de ver sua propriedade ocupada por estranhos, ele decidiu demolir tudo o
que construiu dentro da fazenda. Seis casas e diversos galpões. Apenas a
represa deve escapar devido ao aviso do oficial de Justiça: não é permitido
causar qualquer dano à natureza.
Alemão
estima um prejuízo de R$ 30 milhões. Valor investido na compra de terras que o
cercavam. “Tudo com escritura”, garante.
Seus
vizinhos podem perder ainda mais. Segundo ele, muitos plantaram soja que não
terá tempo para ser colhida. “Eu fui a uma das várias reuniões em Brasília e vi
que não teria volta. Resolvi não plantar meu arroz. Alguns audaciosos acharam
que teriam tempo”, conta.
Apesar da
migração, quem mora em Alto Boa Vista também deve sair perdendo. O prefeito
Wanderlei Perin (PR) prevê a redução da população, já que muitos eram
empregados nas propriedades que deixarão de existir.
“Sem
dúvida vamos perder em arrecadação. Com o tempo as pessoas vão começar a
procurar emprego nas cidades vizinhas, porque não teremos como absorver todos
no mercado de trabalho daqui”, avalia.
A
desocupação continua. A Funai não tem previsão de quando todo o território
voltará às mãos dos 900 xavantes que vivem em Marãiwatsédé, que fica perto de
Alto Boa Vista (a 1.064 quilômetros de Cuiabá) e tem 165 mil hectares.
Diário
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