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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Espigão do Leste sofre com falta de infraestrutura e população lamenta não emancipação

Há cerca de três anos, os habitantes de Espigão do Leste, distrito localizado em Mato Grosso, lutam para se tornar independentes da cidade de São Félix do Araguaia — projeto que acaba de ser vetado pela presidente Dilma Rousseff. Os gastos que a União teria com a emancipação serviram de justificativa para a decisão. A notícia decepcionou a Sinagro, empresa de soluções para agropecuária, que desde 2010 tem uma operação nesse povoado, onde emprega 200 pessoas. Distante 230 quilômetros de São Félix, Espigão do Leste acaba não sendo suficientemente assistido pela administração municipal, o que faz com que a companhia assuma a responsabilidade por prover a infraestrutura necessária para acolher seus funcionários.
Desde que se instalou em Espigão do Leste, a companhia fez uma parceria com uma professora, para que ela abrisse uma escola na região, e contratou um médico, vindo de fora, para atender os funcionários e seus filhos. Por causa das limitações de transporte e locomoção, a empresa buscou o apoio de produtores rurais da região para abrir estradas. A Sinagro precisou construir até as casas de seus empregados no distrito, já que a oferta de imóveis era insuficiente. “Com uma administração local em Espigão do Leste, teríamos mais suporte para realizar esses projetos de desenvolvimento”, afirma Lucilei Almeida, diretora de RH da Sinagro. Graças à presença dessa corporação pioneira, a população de Espigão do Leste dobrou em quatro anos — hoje são 4 000 habitantes. Também já se instalaram no submunicípio mais de 15 empresas — entre fornecedoras, concorrentes e varejistas.
O Centro-Oeste é a região brasileira que mais evoluiu na última década. Entre 2002 e 2009, seu PIB cresceu quase 140% — bem acima da média nacional, de 119%. Atraídas pela rentabilidade do agronegócio e pelas promissoras jazidas de minérios, muitas companhias têm empreendido na região, o que requer atrair profissionais qualificados vindos de fora. Como consequência, o Centro-Oeste se tornou a região brasileira que mais recebe forasteiros: 54% da população veio de outros estados, segundo o IBGE. É mesmo lucrativo mudar para lá. Em 2012, último dado disponível, a região registrou a maior renda média do Brasil, de 1 992 reais. A do país foi de 1 681 reais.
Mas os salários altos não são suficientes para convencer profissionais qualificados a se mudar para áreas remotas. “Fazemos um esforço enorme para atrair e reter, o que inclui oferecer benefícios generosos — é casa, comida e roupa lavada”, diz Leo Mizoe, diretor de RH do Grupo Rio Quente, complexo hoteleiro de Rio Quente, cidade goiana emancipada em 1988, após esforços do grupo. Para atrair as pessoas certas, essas empresas se empenham em urbanizar regiões distantes das capitais.
Para quem vive nesses locais, entretanto, a chegada dessas corporações representa um oásis de novas oportunidades. Desde 2007, quando a Nova Fronteira Bioenergia, produtora de etanol, foi inaugurada em Quirinópolis, no interior de Goiás, cerca de 1 900 empresas se instalaram no município. “Antes, não havia perspectiva de crescimento de carreira”, diz Fábia Rubia de Souza, quirinopolitana de 33 anos, hoje geógrafa e assistente de gerência da Nova Fronteira Bioenergia. Benefícios trabalhistas mais sofisticados, como cooperativa de crédito e previdência privada, passaram a fazer parte da realidade dos trabalhadores da região. Quirinópolis, antes na 39a posição no ranking das cidades goianas com melhor qualidade de vida, hoje está em sexto lugar. “Nós revitalizamos os arredores da empresa, reformamos estabelecimentos públicos, doamos ambulâncias, construímos pontos de ônibus, abrimos uma escola técnica, entre outras ações”, diz Marcia Cubas, diretora de RH do Grupo São Martinho, controlador da Nova Fronteira Bioenergia. Ao promover o desenvolvimento em regiões remotas, as empresas têm contribuído para a redução da desigualdade social. Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso estão entre os estados brasileiros com menor proporção de pessoas abaixo da linha da pobreza, com taxas de 1,9%, 3,7%, 5,0% e 5,9%, respectivamente — todas abaixo da média nacional, de 8,5%.
Mais do que desenvolver, algumas empresas criam cidades no Centro-Oeste. É o caso de Minaçu, fundada em 1966, depois que um geólogo da Sama descobriu grandes jazidas de amianto crisotila na região. De lá para cá, a mineradora construiu estradas, condomínios, aeroporto e ajudou a viabilizar a hidrelétrica de Serra da Mesa, uma das maiores do país. “Todas as grandes obras de Minaçu tiveram o apoio da Sama”, diz Moacyr de Melo Júnior, gerente de RH da Sama.

Considerando-se o potencial do agronegócio — cujo PIB atingiu 1 trilhão de reais em 2013 —, o interior do Centro-Oeste deverá atrair muitas empresas nos próximos anos. Sinal de boas oportunidades para quem tiver disposição de ajudar a construir a história de novas cidades.

Por: Revista VOCÊ S/A

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